quinta-feira, 25 de março de 2010

Fl. 03 - Formas de Leitura e Uso da Oralidade


FORMAS DE LEITURA
Se pensarmos a questão da prática da leitura como uma prática constante em torno de uma diversidade de textos que circulam socialmente, rompe-se com a idéia de que a leitura é um ato mecânico, homogêneo, abstrato. Neste caso, ler resulta de diferentes competências e habilidades (decodificação, seleção, antecipação, inferência, verificação, confirmação de hipóteses etc). Resulta também de diferentes práticas de leitura: ler para informar, ler para copiar um trecho, ler para distrair. Ler com o outro, para o outro, em voz alta ou silenciosamente, em diferentes lugares e momentos. Ler em diferentes suportes materiais de texto: jornal, livro, panfleto, cd_ROM. Todas e qualquer uma dessas práticas de leitura socialmente construídas, são e devem ser aprendidas e exercitadas na escola.
Nesse caso, saber ler significa ter acesso aos materiais disponíveis pela cultura e ter condições favoráveis ao uso que se faz deles nas práticas de leitura, saber selecionar dentre o que circula socialmente aqueles textos que podem atender às suas necessidades, conseguindo também selecionar as estratégias adequadas para a sua abordagem.

USOS E FORMAS DA MODALIDADE ORAL
O que se pode colocar como "novo" nos PCN é a ênfase no papel da escola quanto à utilização adequada da linguagem oral de forma mais competente em instâncias distintas daquelas do espaço privado: contextos informais, coloquiais e familiares.
Normalmente o uso da oralidade em público não é ensinado. É como se todas as pessoas por já saberem falar a língua, o façam naturalmente (sem inibição ou medo) em qualquer situação. Não é verdade. Quantas vezes nos surpreendemos em uma reunião mais formal, tendo o que dizer, querendo dizer e ao iniciarmos nossa fala percebemos que não conseguimos articular adequadamente as nossas idéias e opiniões. Assim, mesmo sabendo falar em outras situações, tendo o que falar, muitas vezes, não sabemos fazê-lo, por não ter o domínio do como fazer. Deste modo, à medida que somos expostos a inúmeras e diferentes situações e à medida que o fazemos, podemos avaliar, adequar, acertar nossa exposição às observações e comentários feitos pelos nossos ouvintes durante ou no final da apresentação de nossa fala. Assim, vamos nos familiarizando e "naturalizando" nossa fala em público (exposição oral de um tema estudado, por exemplo) demonstrando segurança e autonomia.
Pensando desta maneira, cabe ao professor planejar e propiciar situações didáticas em que os alunos aprendam usos e formas da oralidade, em diferentes variedades e registros de acordo com as diferentes intenções, suportes de textos e situações, considerando diferentes interlocutores e graus de formalidade que eles exigem.
Isto não significa deixar apenas as crianças falarem, falarem como quiserem e como sabem. Significa propor atividades sistemáticas de fala, escuta e reflexão sobre a língua para que vivenciem usos da língua oral adequados a diferentes situações comunicativas, sem preconceito ou valorização por qualquer um desses usos.
Atividades dos mais variados tipos, mas que tenham sempre sentido de comunicação e fato: exposição oral, sobre temas estudados apenas por quem expõe; descrição do funcionamento de aparelhos e equipamentos em situações onde isso se faça necessário; narração de acontecimentos e fatos conhecidos apenas por quem narra, etc. Esse tipo de tarefa requer preparação prévia, considerando o nível de conhecimentodo interlocutor e, se feita em grupo, a coordenação da fala própria com a dos colegas - dois procedimentos complexos que raramente se aprendem sem ajuda.
Vimos então que as práticas de leitura, de escrita e da oralidade são práticas complementares, fortemente relacionadas que se modificam mutuamente: à medida que a escrita transforma a fala, a fala interfere na escrita.

A QUESTÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Finalmente quero colocar, ainda que os PCN assumem como papel da escola formar sujeitos críticos, capazes de investigar, articular, descobrir de forma ativa os objetos do mundo – a linguagem – a que eles são expostos. Mais do que oferecer o convívio do aluno com a linguagem trata-se de oferecer-lhe o convívio com práticas sociais de compreensão e produção de textos e de análise lingüística, nas modalidades oral e escrita, de maneira constante e progressiva e em sua diversidade. Mais do que isso, trata-se ainda de partir das possibilidades de aprendizagem do aluno, de suas necessidades para a ampliação do seu universo de referências, propiciando-lhe familiaridade crescente com expressões culturais e científicas cada vez mais complexas.

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