domingo, 4 de abril de 2010

Apost. 1/2 - As Capacidades Linguísticas da Alfabetização

O desenvolvimento das capacidades lingüísticas de ler e escrever, falar e ouvir com compreensão, em situações diferentes das familiares, não acontece espontaneamente. Elas precisam ser ensinadas sistematicamente e isso ocorre, principalmente, nos anos iniciais da Educação Fundamental.
Sabe-se que os três anos iniciais da Educação Fundamental não esgotam essas capacidades lingüísticas e comunicativas, que se desenvolvem ao longo de todo o processo de escolarização e das necessidades da vida social. Sabe-se, também, que o trabalho a ser feito nesses três anos iniciais não se esgota na alfabetização ou no desenvolvimento dessas capacidades lingüísticas. Mas elas são importantes porque é na alfabetização e no aprendizado da língua escrita que vêm se concentrando os problemas localizados não apenas na escolarização inicial, como também em fracassos no percurso do aluno durante sua escolarização.
Para que uma pessoa possa aprende a ler e a escrever, há alguns saberes que ela precisa atingir e algumas percepções que deve realizar conscientemente.

1. A idéia de símbolo: Capacidade de compreender a ligação simbólica entre letras e sons da fala. Esta não é uma percepção fácil para a criança. A relação entre um símbolo e a coisa que ele simboliza é inteiramente arbitrária, ou seja, a razão da forma de um símbolo não está nas características da coisa simbolizada. Ex.: Cor vermelha no trânsito = instrução PARE; bandeira branca na praia = mar calmo; dedo polegar voltado para cima = tudo bem.
Sugere-se: trazer para a escola exemplos de símbolos: escudos de times de futebol, bandeiras de países, sinais de trânsito, apitos convencionais de guarda de trânsito, gestos convencionais, gestos da língua de sinais manuais dos surdos-mudos, símbolos religiosos, emblemas, amuletos.

2. Discriminação das formas das letras: Capacidade de enxergar as diferenças entre as letras. As letras para quem ainda não se alfabetizou são risquinhos pretos numa página. O aprendiz deve ser capaz de entender que cada um daqueles risquinhos vale como símbolo de um som da fala. O aprendiz precisa discriminar as formas das letras. As letras do nosso alfabeto tem formas bastante semelhantes, por isso, a capacidade de distingui-las exige refinamento na percepção. A criança que não leva em conta conscientemente essas percepções visuais finas não aprende a ler.
Sugere-se: exercícios de desenho de pequenas formas: círculos, traços, cruzes, quadrados, curvas, espirais...
Na escola de antigamente, as crianças preenchiam páginas e mais páginas com linhas verticais enfileiradas, inclinadas, circulozinhos, arquinhos e exercícios e mais exercícios de traçados, antes de começar a alfabetização.
Sem chegar ao exagero, parece haver espaço para o retorno desta prática, pois hoje é comum ver pessoas segurando mal o lápis, colocando torto o papel na mesa, sentando-se errado para escrever, começando o traçado das letras de modo arrevesado (confuso). Cultivar boa técnica na escrita é um valor que merece voltar à moda.

3. Discriminação dos sons da fala: Capacidade de ouvir e ter consciência dos sons da fala, com suas distinções relevantes na língua. Conscientização da percepção auditiva. Identificar através da audição a diferença lingüística de palavras como: fé/pé, faca/vaca. É claro que só será capas de escrever aquele que tiver a capacidade de perceber as unidades sucessivas dos sons da fala utilizadas para enunciar as palavras e de distingui-las conscientemente uma das outras. Sugere-se: criar listas de palavras que começam com o mesmo som, de palavras que rimam, de canções que apresentam repetição de sílabas, tomar uma mesma melodia e cantá-la em diversas sílabas: La-la-la...ta-ta-ta...tum-tum-tum... brincar de telefone sem fio.

4. Consciência da unidade “palavra”: Captar o conceito de palavra. A corrente dos sons que emitimos ao falar é a representação de um sentido, de um conteúdo mental. Sequências de unidades de som correspondem a unidades de sentido ou conceitos.
Quem vai aprender a escrever deve saber isolar, na corrente da fala, as unidades que são palavras, pois essas unidades é que deve-rão ser escritas. Sugere-se: dizer o nome dos objetos que estão à vista. Aprender novas palavras: partes do corpo, profissões, plantas, animais, frutas... localizar a mesma palavra colocada em duas posições diferentes, contar quantas palavras há numa sentença.

5. Organização da página escrita: A organização espacial da página deve ser estabelecido logo no início do trabalho de alfabetização. A idéia de que a ordem significativa das letras é da esquerda para a direita na linha e que a ordem significativa das linhas é de cima para baixo na página. Isso precisa ser ensinado, pois dessa compreensão decorre uma maneira muito particular de efetuar o movimento dos olhos na leitura. A maneira de olhar uma página de texto escrito é muito diferente da maneira de olhar uma figura ou fotografia.
Sugere-se: brincar de ler: memorizar e recitar pequenos textos, apontando cada palavra correspondente à medida que a leitura é feita. Com bonitos versinhos, essa atividade pode tornar-se muito agradável.

Os eixos necessários à aquisição da língua escrita:
As capacidades selecio nadas estão organizadas em torno dos eixos mais relevantes para a apropriação da língua escrita:
(1) compreensão e valorização da cultura escrita;
(2) apropriação do sistema de escrita;
(3) leitura;
(4) produção de textos escritos;
(5) desenvolvimento da oralidade.

Fontes de Pesquisa: Pró-Letramento: Alfabetização e Linguagem, MEC - Alfabetização e Letramento, Magda Soares - Guia Teórico do Alfabetizador, Miriam Lemle – Internet

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